Estou no décimo andar e a janela está aberta. Não sei como isso pode me ajudar. Afinal, eu não sou um super-homem. Muito pelo contrário. Minha ridícula condição de homem simples, mortal e limitado, me é esfregada na cara em todo o momento. Nas dívidas que não consigo pagar, nas coisas que não consigo ter, no respeito que não consigo inspirar, nas mulheres que não consigo comer.O peso de todas as minhas limitações ainda é agravado pela minha perfeita compreensão do caos instalado no mundo, com a mais cristalina visualização das alternativas que podem salvá-lo, mas sem conseguir que ninguém as ouça. O mundo é um trem desgovernado aonde eu não queria embarcar, prestes a cair num precipício, mas seus passageiros estão indiferentes a isso, realizando uma puta festança no segundo vagão. Eu sei perfeitamente como mudar o rumo do trem, não posso fazê-lo sozinho, mas ninguém quer me ouvir a esse respeito. E eu sequer consigo aproveitar a festa.
Acho que estou começando a compreender no que pode me ser útil a janela aberta no décimo andar. Vou precisar dela exatamente porque não sou um super-homem.
