sábado, 20 de junho de 2009

O drama da vocação enjaulada, ou a vida no corredor da morte

Como milhões de brasileiros, sou dono de uma vocação enjaulada. Por dentro do executivo estressado, que bajula clientes e fecha grandes negócios, debate-se um frustrado professor de literatura, condenado à prisão perpétua pelas limitações salariais de sua vocação.
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O preso não tem bom comportamento. Ele se debate, rebelando-se e deixando um rastro de destruição a cada tentativa frustrada de vencer os muros de sua prisão, que se apresenta cada dia mais definitiva.
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Meu único conforto é que a pena não se anuncia muito longa. Não costuma ser grande a expectativa de vida dos homens que são carcereiros de si mesmos. Não raro, o preso morre jovem e frustrado, levando consigo seu carcereiro involuntário. Decerto morrerei esmagado sob o peso de muitas aulas não dadas, de alunos não ensinados e de livros não lidos. Como toda a minha geração.
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Não tive sorte ao nascer num país que concentra a maior massa carcerária de vocações em todo o Universo. Sem indultos nem progressão de regime.