terça-feira, 20 de novembro de 2007

Laços de Família

Devia estar assim no Aurélio: “Novela: Merda que a televisão inventou a pedido do governo, feita sob medida pra distrair o povão que não tem porra nenhuma, justamente pra que ele não possa pensar em quem é o culpado por ele não ter porra nenhuma. Sempre a mesma estória, eternamente repetida, com atores piores a cada reencenaçao”.

Era como eu me sentia. Numa merda duma novela do Manoel Carlos com aquele monte de gente de bolso cheio e vida vazia. Num daqueles eventos sociais para os quais as esposas conduzem seus maridos sem lhe dar chance de escapatória, lá estava eu com minha mulher no aniversario de uma tia dela que eu mal conheço. A velha, de idade indefinida (mas certamente avançada) depois de tantas plásticas, morava numa mega-cobertura na Zona Sul do Rio, com o marido, a filha e um daqueles irritantes cachorros de grã-fina com latido fino.

Lá estava a madame, sentada com seus amigos ricos, num semicírculo de perversões e conversas fúteis. O amigo empresário, sonegador de impostos inveterado, simpático como ele só, contava estórias de viagem, normalmente as mesmas de sempre, só mudando a data e o local. A anfitriã relembrava fatos engraçados da época de namoro e tecia loas ao seu casamento feliz e longevo. Omitiu, evidentemente, os momentos em que busca consolo na peia de um garotão de vinte e poucos anos, amigo de sua filha. Seu marido tampouco menciona as festas regadas a drogas e comprimidinhos azuis no puteiro de luxo que funciona ao lado de seu escritório. A irmã solteirona da aniversariante lamenta toda essa violência do Rio de Janeiro e reclama que a cidade está nas mãos dos bandidos. Provavelmente os mesmos bandidos que lhe fornecem o pó branco que a estimula para o trabalho e que ela alterna com uísque e remédios tarja preta.

Ah, a falta de assunto dos ricos! Ricos e sovinas. Tanto dinheiro e nem pra comprar uma porra dum camarão decente. Qualquer favelado que faz churrasco na laje de casa come melhor do que eu comi naquele dia.

De aproveitável naquela noite, só a bunda da filha da dona da casa, que guardava uma redondice de menina, bem delineada por um diáfano vestido. Uma microcalcinha totalmente enterrada entre as nádegas rijas era a cereja do bolo. E a dona da rabeta desfilava, de um lado pro outro, mergulhada no gozo, conhecido e não admitido, que toda mulher experimenta ao se perceber enredo potencial de uma bronha.

Até a trilha sonora era típica de novela das oito, com a bossa nova vindo do excelente DVD de Vinícius de Moraes, que tocava no home theater da sala sob a indiferença de quase todos os presentes.

E a seguir cenas do próximo capítulo.

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